03/12/2025

Good morning, Brasil.

A bilionária self-made mais jovem do mundo é brasileira. Após a nova rodada que elevou o valuation da Kalshi, a plataforma de previsões fundada por Luana Lopes Lara em 2019, ela acaba de entrar para a seleta lista da Forbes.

Por aqui, o caso Reag volta a expor fragilidades da indústria de fundos exclusivos; um estudo da Fazenda mostra que o 0,01% mais rico do país paga, na prática, apenas 4,6% de IR; e Toffoli determinou sigilo ao processo envolvendo Vorcaro no STF.

E já que o assunto é dinheiro, o Paper of the Day de hoje traz uma análise do novo estudo do Ipea sobre o aumento da renda real do brasileiro nos últimos 20 anos - o que os números mostram, e o que eles escondem.

Aqui está o seu THE PAPER de hoje.

QUICK TAKES

📎 Read: Caso Reag expõe indústria de fundos exclusivos e táticas do crime para lavar dinheiro (Bloomberg Línea)

▶️ Watch: Salário inicial de US$ 225.000: como os associados de grandes escritórios de advocacia ganham muito dinheiro (Bloomberg Law)

#️⃣ Stat: Fatia 0,01% mais rica paga só 4,6% de Imposto de Renda, diz estudo da Fazenda (Folha)

🧊 Ice Breaker: A Cartier é a Rolex da Geração Z, graças a Taylor Swift (Fashion Network)

ANTES DO SINO

PAPER OF THE DAY

A renda do brasileiro aumentou, mas…

No final de novembro, o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgou um estudo mostrando que, entre 1995 e 2024, a renda domiciliar per capita no Brasil cresceu cerca de 70% em termos reais. Ao mesmo tempo, a desigualdade e a pobreza caíram para os menores níveis da série histórica. É, de fato, um marco importante, mas que esconde um retrato incômodo:

Melhoramos muito em casa, mas estamos ficando para trás quando comparado a outros países.

Gráfico: Ipea

Os Números: O Que Realmente Melhorou

Em 1995, logo depois do Plano Real, a renda domiciliar per capita média era de R$ 1.191 por mês (já em valores de 2024, corrigidos pela inflação). Em 2024, esse valor chegou a R$ 2.015 por pessoa — um avanço de quase 70% em três décadas.

No mesmo período, o coeficiente de Gini, que mede a desigualdade, caiu de 61,5 para 50,4, uma redução de quase 18%.

  • A extrema pobreza (pessoas vivendo com menos de R$ 267 por mês) despencou de 25% para 4,8% da população;

  • A pobreza ampliada (até R$ 738/mês) recuou de mais de 60% para 26,8%.

Gráfico: Ipea

Obs 1: Todos esses valores estão em reais constantes de 2024. O Ipea encadeia as séries da PNAD Contínua e deflaciona tudo para limpar o efeito da inflação. Ou seja: não é “aumento nominal”, é poder de compra de fato.

Obs 2: Conforme alertam os próprios autores da Nota Técnica nº 120: "Pesquisas domiciliares tendem a subestimar os montantes de benefícios assistenciais e subestimam fortemente os rendimentos dos mais ricos."

Os ciclos da renda: Quando o Brasil realmente andou para frente

Quando você olha a série, percebe que esse avanço não foi linear. O Ipea identifica quatro períodos bem distintos:

  • 1995-2003 — Estagnação Pós-Plano Real: A inflação cai, a moeda estabiliza, mas o brasileiro médio chega em 2003 com renda 4% menor do que em 1995. Crises externas (México, Ásia, Rússia), juros altos e crescimento fraco explicam o travamento.

  • 2003-2014 — A Década de Ouro: Aqui acontece aproximadamente 80% de todo o aumento de renda do período de 30 anos. Apoiado no boom das commodities, na demanda chinesa e em políticas domésticas como Bolsa Família, elevação do salário mínimo e expansão do crédito, o país emplacava 11 anos consecutivos de crescimento real da renda per capita, com taxa média de 4,2% ao ano.

  • 2014-2021— Recessão, Crise Política e Pandemia: A recessão de 2015-2016 derruba a renda em 4,5%. A recuperação é lenta, e quando o quadro começa a reagir, a Covid-19 interrompe tudo. Em 2021, a renda per capita atinge seu menor valor em uma década.

  • 2021-2024 — Retomada Acelerada (A Surpresa): O triênio pós-pandemia apresenta o maior crescimento do poder de compra desde o Plano Real, com alta de mais de 25% na renda per capita (7,8% ao ano). A taxa de desemprego cai para 6,6%, recorde da série, e o nível de ocupação junto com a renda do trabalho sobem consistentemente.

Mas é ai que vem o detalhe: Metade da queda recente na desigualdade vem do mercado de trabalho e a outra metade da expansão das transferências (Bolsa Família, BPC, Auxílio Emergencial) — elementos que foram impulsionados nos últimos anos. E nesse quesito, a Carta do Condado faz uma excelente análise sobre o tema.

Mas quando olhamos para o mundo, ainda temos muito a evoluir

A questão do Brasil fica evidente quando você coloca o país na comparação internacional. O avanço de 70% é impressionante se você apenas olha para trás. Mas se você olha para o lado, a história fica preocupante. Países que tinham renda similar à nossa na década de 1990, como China e Polônia, hoje estão em outro patamar econômico completamente diferente.

Obs: Para fazer essa comparação, por falta de dados detalhados de renda per capita de outros países, mudamos a régua: em vez da renda que cai no bolso das famílias, olhamos para o PIB per capita. E é aqui que a nossa estagnação fica evidente.

O que essa comparação revela

  • 1. A ultrapassagem chinesa: Em 1995, o brasileiro médio era quatro vezes mais rico que o chinês. Hoje, a China não só nos alcançou como já tem renda per capita superior à nossa.

  • 2. O exemplo polonês (e o alerta para o Brasil): Polônia e Brasil tinham renda praticamente igual em 1995. Três décadas depois, a Polônia virou economia de alta renda; o Brasil continua no meio do caminho.

  • 3. O ponto mais preocupante, ficamos abaixo da média mundial: Enquanto o mundo cresceu cerca de 4,4% ao ano, o Brasil cresceu 3,1%. Resultado: perdemos relevância global e empobrecemos em termos relativos.

Renda maior… mas para onde está indo parte desse dinheiro?

Há um detalhe incômodo por trás do avanço da renda: uma fatia crescente desse dinheiro está sendo drenada pelas apostas online — o "imposto invisível" que não aparece nos dados do Ipea, mas pesa fortemente no dia a dia das famílias.

Segundo o Banco Central, os brasileiros enviaram aproximadamente R$ 20 bilhões por mês via Pix para plataformas de apostas em 2024, um mercado que já é 10 vezes maior do que todas as loterias federais somadas.

O efeito é ainda mais grave entre os mais pobres. Em agosto de 2024, apenas naquele mês, 5 milhões de beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3 bilhões em apostas, com mediana de R$ 100 por pessoa. Para quem vive com benefício de transferência de renda, esse valor representa uma fração significativa do orçamento mensal, comprometendo alimentos e itens essenciais.

O impacto econômico:

A Confederação Nacional do Comércio (CNC) estima que as bets tiraram R$ 103 bilhões do varejo em 2024. Pesquisas mostram que apostadores deixaram de consumir itens básicos — roupas, supermercado, higiene — para jogar. Isso reduz o multiplicador econômico (o dinheiro não circula na economia real), afeta o emprego no varejo e pressiona o PIB. O Santander estima impacto negativo de até 0,3% no PIB.

O lado financeiro agrava tudo: Cresce o uso de cartão de crédito e empréstimos pessoais para cobrir perdas em apostas, aumentando inadimplência principalmente entre famílias que ganham 3 a 5 salários mínimos. O que deveria ser economia para esses grupos vira dívida.

No fim das contas: A renda subiu, mas a renda disponível (aquela que efetivamente melhora a qualidade de vida) ficou sob ataque. O país ganhou poder de compra; mas parte dele se dissipou na roleta digital.

O resultado: Um brasileiro que vê sua renda 'corrigida pela inflação' subir 70% pode não sentir todo esse ganho no dia a dia. A realidade é que o aumento do custo de vida com despesas essenciais pode ter 'comido' boa parte desse avanço, explicando por que, apesar dos números positivos, a sensação de aperto financeiro persiste para muitas famílias.

HEADLINES

World Big News:

  • Se a Europa quiser começar uma guerra, estamos prontos, diz Putin (Euronews)

  • Michael e Susan Dell doarão US$ 6,25 bilhões para financiar “contas Trump” para 25 milhões de crianças americanas (CNBC)

Governo, Tesouro, BC e Brasília:

  • Toffoli impõe sigilo a caso Vorcaro no STF (CNN)

  • Filiado ao União Brasil, contador da campanha de governador do Amazonas autorizou aporte de R$ 50 milhões da Amazonprev no Master (O Globo)

  • Operador do 'mensalão', Marcos Valério é alvo de investigação em esquema de sonegação com atacadistas em MG (O Globo)

  • Governo deve propor mudança na meta fiscal de 2026 das estatais devido à crise dos Correios (Valor)

  • Atlas/Bloomberg: desaprovação de Lula volta a subir e chega a 50,7% (CNN)

Faria Lima, Wall Street, Euro, Ásia:

  • Colapso do Banco Master levanta debate sobre papel de plataformas como a XP (Bloomberg Línea)

  • Banco Master: o que falta para os pagamentos começarem? (Times Brasil)

  • Starbucks faz acordo de US$ 38,9 mi com Nova York por violação de proteção ao trabalhador (IstoÉ Dinheiro)

  • O Instagram exigirá que seus funcionários baseados nos EUA retornem ao escritório cinco dias por semana (CNBC)

Economia Real e Commodities:

  • Banco do Brasil repactuou R$ 13,5 bi com recurso livre (Globo Rural)

  • Agro projeta perdas de R$ 173 milhões com novas demarcações indígenas em MT (Agro Estadão)

  • Sem EUA, setor de pesca deixa de exportar US$ 250 milhões (Globo Rural)

  • Produtividade do trabalho na indústria cai 23% em 30 anos (Valor)

Tech, Silicon Valley, Startups, Criptos, VC:

  • Kalshi levanta US$ 1 bilhão com avaliação de US$ 11 bilhões, enquanto corrida por mercado de previsões se intensifica (CoinDesk)

  • A reserva de US$ 1,44 bilhão da Strategy representa uma salvação ou um sinal de alerta para os títulos lastreados em Bitcoin? (AInvest)

  • A Apple acaba de nomear um novo chefe de IA com experiência no Google e na Microsoft, enquanto John Giannandrea deixa o cargo (TechCrunch)

  • A OpenAI declara "código vermelho" enquanto o Google se aproxima na corrida da AI (The Verge)

Deals, M&A e Private Equity:

  • Smart Fit compra controle de rede de academias Evolve por R$ 100 milhões (CNN)

  • Após longas negociações, Versace passa a fazer parte da Prada (Reuters)

  • Blackstone avança em hospitalidade com negócio de US$ 800 mi por resorts em Las Vegas (Bloomberg Línea)

  • Netflix oferece grande parte em dinheiro pelo deal da Warner Bros. em nova rodada de licitações (Yahoo Finance)

GRÁFICO DO DIA

Detalhe, o investidor que comprou Cogna naquele “auge” de 19/20 ainda está longe de recuperar o valor investido.

Destaque para as construtoras: Cury, Direcional e Cyrela.

CULTURE SHIFTER

Hoje não é meme, é Brasil. Luana Lopes Lara, cofundadora da Kalshi, torna-se a bilionária mais jovem da história a construir sua própria fortuna, superando Taylor Swift e Lucy Guo.

Leia mais em: Forbes

AGENDA

Segunda, 01/12:

Terça, 02/12: Produção Industrial (BRA); Ofertas de Emprego (EUA)

Quarta, 03/12: PMI de Serviços (EUA); PMI Não-Manufatura (EUA)

Quinta, 04/12: PIB do Brasil; Balança Comercial (BRA); Pedidos Iniciais por Seguro-Desemprego (EUA)

Sexta, 05/12: Núcleo do Índice de Preços PCE (EUA)

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