04/12/2025

Good morning, Brasil.

Enquanto nos aproximamos do Natal, as notícias em Brasília seguem em ritmo acelerado: o Tesouro Nacional barrou um empréstimo de R$ 20 bilhões aos Correios após identificar uma taxa de juros acima de 120% do CDI; e o MEC quer acelerar a expansão do ensino integral para alcançar 100% dos municípios até 2026. Além disso, hoje teremos a divulgação do PIB do Brasil.

E no Paper of the Day de hoje, mergulhamos no mercado que acaba de revelar a brasileira self-made mais jovem do mundo a se tornar bilionária: o mercado de previsões - um setor que já movimenta bilhões por mês e começa a redesenhar o debate sobre risco, regulação e até as discussões políticas.

Aqui está o seu THE PAPER de hoje.

QUICK TAKES

📎 Read: MEMÓRIA. Mattos Filho, um mestre generoso e visionário (Brazil Journal)

▶️ Watch: O maior erro das grandes marcas: O que aconteceu com a Nike? (Flow)

#️⃣ Stat: Lista Forbes 30 Under 30 - EUA (Forbes)

🧊 Ice Breaker: Como as experiências nas arenas da NBA se tornaram ultraluxuosas (FOS)

ANTES DO SINO

Fechamento 03/12/2025 — (19:00)

PAPER OF THE DAY

O mercado de previsões

Na terça-feira (02), uma notícia correu o mundo: Luana Lopes Lara, 29 anos, brasileira, ex-bailarina do Bolshoi, acaba de se tornar a mulher self-made mais jovem do mundo a atingir a casa do bilhão.

Na prática, a Kalshi virou uma espécie de “CME do futuro” para apostas reguladas em eventos do mundo real, desde a inflação e decisão do Fed a eleição americana e jogos da NFL – mas com foco no varejo, não apenas em institucionais.

Mas isso não é um caso isolado. Junto com a rival Polymarket, esses mercados chegaram a movimentar quase US$ 10 bilhões em um único mês em volume negociado, impulsionados, por exemplo, pela eleição americana de 2024.

Luana Lopes e Tarek Mansour, fundadores da Kalshi

O que é, afinal, um mercado de previsão?

Em vez de negociar ações, moedas ou contratos de DI, você negocia eventos.

Cada operação é, basicamente, uma pergunta de “sim ou não”:

  • “Tarcísio vai concorrer a eleição de 2026?”

  • “O Santos vai ser rebaixado em 2025?”

  • “O Fed vai cortar juros na próxima reunião?”

  • “Trump será eleito presidente em 2028?”

Cada resposta vira um contrato que vale entre US$ 0 e US$ 1. Se o evento acontecer, o contrato de “SIM” liquida a US$ 1. Se não acontecer, ele vai a zero. Se o contrato de “SIM” estiver negociando a US$ 0,65, o mercado está dizendo: probabilidade implícita de 65%.

É como se fosse uma Bolsa de probabilidades: quanto mais gente (e mais dinheiro) acredita num cenário, maior o preço e maior a probabilidade que o mercado está atribuindo àquele resultado.

Isso tem duas consequências importantes:

  1. Preço = informação: em vez de uma pesquisa de opinião a cada 15 dias, você tem uma curva de probabilidade em tempo real para inflação, eleição, decisão de juros, etc.

  2. Incentivo alinhado: ao contrário do Twitter, aqui não ganha quem fala mais alto, mas quem acerta mais.

Kalshi: a “CME” dos eventos

A Kalshi é a peça mais “marcante” dessa história.

  • Regulada: é uma Designated Contract Market (DCM) aprovada pela CFTC, o mesmo selo regulatório de uma bolsa de futuros. Isso permite que ela ofereça contratos de eventos para o varejo americano dentro das regras de derivativos, não como site de aposta.

  • Rodada bilionária: Na terça (02), a empresa anunciou uma Series E de US$ 1 bi a um valuation de US$ 11 bi, em rodada liderada pela Paradigm, com Sequoia, a16z, ARK e outros nomes grandes.

  • Escala: em novembro, a Kalshi sozinha negociou cerca de US$ 5,8 bilhões em contratos de dados de inflação a estatísticas da NFL.

A tese é simples: se tudo o que fazemos em finanças é tentar precificar o futuro, faz sentido existir uma bolsa em que o ativo é o próprio evento.

Polymarket: “a versão cripto”

No outro lado da mesa está a Polymarket, que nasce do mundo cripto:

  • Opera em blockchain (Polygon), com transações em USDC.

  • É global por design: qualquer pessoa com carteira e stablecoin pode negociar.

  • Ganhou fama ao prever com mais precisão que as pesquisas vários eventos, incluindo a eleição americana de 2024, onde os contratos de Trump chegaram a precificar >90% de chance de vitória antes do fechamento das urnas.

Depois de levar uma multa da CFTC em 2022 e ser obrigada a bloquear usuários dos EUA, a Polymarket se reestruturou, adquiriu uma estrutura regulada e hoje disputa diretamente com a Kalshi. Inclusive anunciou ontem o seu retorno oficial para o mercado americano.

Enquanto a Kalshi se posiciona como “bolsa regulada de eventos”, a Polymarket vende a narrativa de mercado livre, aberto, 24/7, transparente em blockchain e com taxas muito mais baixas.

Além delas, a Fanatics, uma das maiores empresas esportivas do mundo, acabou de lançar a sua plataforma de previsões em 24 estados americanos, e a corretora Robinhood também anunciou a aquisição da empresa MIAXdx para entrar nesse mercado.

É um movimento que tende a ganhar cada vez mais força inclusive no próximo ano, principalmente com a Copa do Mundo em junho/julho.

Por que Wall Street (e o Vale do Silício) estão olhando para esse mercado?

Alguns motivos para a escalada do dinheiro:

  1. Nova classe de ativo: Para o investidor, contratos de eventos funcionam como uma forma direta de expressar views macro, políticas ou esportivas e às vezes com “payoff” melhor que opções tradicionais.

  2. Ferramenta de hedge: Empresas podem usar mercados de previsão para proteger resultados de eleições, decisões de política econômica ou indicadores que afetam seus negócios.

  3. Dado de alta frequência: Se os preços desses mercados forem de fato bons agregadores de informação, eles viram um novo feed de dados para mesas proprietárias, gestoras quantitativas e tesourarias, como se fosse um “termômetro” em tempo real para risco político e macroeconômico.

  4. Narrativa de tecnologia + finanças: Kalshi é um play de infraestrutura regulada; Polymarket, um play de cripto. As duas surfam a mesma tese: como transformar opinião em ativo negociável.

E o Brasil com isso?

No Brasil, a discussão fica ainda mais sensível e bem mais travada do que lá fora.

  • Primeiro, porque não existe hoje nenhum mercado de previsão regulamentado no modelo Kalshi/Polymarket. O que temos é um ecossistema de apostas esportivas recém-regulamentado.

  • Segundo, porque apostas políticas são proibidas no Brasil: em setembro de 2024, o TSE aprovou por unanimidade uma resolução classificando apostas sobre resultados eleitorais como ilícito eleitoral. Na prática, esse tipo de mercado passa a ser visto como abuso de poder econômico, com risco de cassação, inelegibilidade e até crime eleitoral.

  • Terceiro, porque a legislação atual não contempla mercados de previsão.
    A Lei das Bets autoriza apenas apostas de quota fixa em eventos esportivos e jogos online. Não há base legal clara para contratos sobre inflação, Selic, PIB, clima, lançamentos de tecnologia ou cultura.

Mesmo assim, há quem esteja tentando abrir caminho.

A Triad Markets, criada por brasileiros e construída na blockchain Solana, vem testando um modelo “à brasileira” de prediction market. A plataforma foca em entretenimento, cultura pop, tecnologia e alguns eventos econômicos, integra Pix e já movimentou alguns milhões de reais em transações globais desde o seu lançamento. É o experimento mais próximo do que seria um “mercado de previsões local”

No fim, o Brasil está numa encruzilhada: acabou de passar por uma grande mudança regulatória em relação as BETs e agora tem mais um “mercado de previsões” que pode começar chamar a atenção dos apostadores.

Você já conhecia o mercado de previsões?

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HEADLINES

World Big News:

  • Crise iminente em Israel devido ao projeto de lei sobre o recrutamento militar de ultraortodoxos (BBC)

  • China aumenta imposto sobre preservativos em esforço para impulsionar as taxas de natalidade (The Straits Times)

  • Os EUA suspendem todos os pedidos de imigração de 19 países (CNBC)

Governo, Tesouro, BC e Brasília:

  • Tesouro reprova empréstimo de R$ 20 bilhões aos Correios com juros acima de 120% do CDI (Estadão)

  • Coaf vê triplicar alertas de movimentações financeiras suspeitas com bets e apostadores (Estadão)

  • Gilmar determina que apenas PGR pode pedir impeachment de ministros do STF (CNN)

  • MEC pretende chegar a 100% do país com escolas integrais em 2026 (Agência Brasil)

Central de Resultados:

  • Ações da American Eagle disparam com a expectativa de fim de ano, e a empresa eleva suas previsões após anúncios de Sydney Sweeney (CNBC)

  • CrowdStrike divulga resultados financeiros do terceiro trimestre do ano fiscal de 2026 (Yahoo Finance)

Faria Lima, Wall Street, Euro, Ásia:

  • Chicago Advisory cria empresa para ser a Nielsen dos bancos (Pipeline Valor)

  • Agibank quer IPO americano em janeiro (Pipeline Valor)

  • Empresas querem pagar dividendos com ações (Valor)

  • Governo exonera diretor da Rioprevidência após investimento no Banco Master (UOL)

Economia Real e Commodities:

  • Indústria sente efeitos de juros e tarifaço (Valor)

  • "Poderíamos abrir 700 postos por ano, se não fosse o crime organizado", diz presidente da Ipiranga (Neofeed)

  • Aneel prepara diferenciação de tarifa por período (Valor)

  • Grandes safras e juros elevados devem reduzir margens de empresas do agro (Globo Rural)

Tech, Silicon Valley, Startups, Criptos, VC:

  • TikTok anuncia investimento de R$ 200 bilhões para construir data center no Brasil (Bloomberg Línea)

  • Anthropic planeja um IPO já em 2026, segundo Financial Times (Reuters)

  • Amazon aposta em novo chip para ganhar terreno de Nvidia e Google em AI (Bloomberg Línea)

  • Lastlink faz rodada com Astella e BTG para brigar com a Hotmart (Brazil Journal)

Deals, M&A e Private Equity:

  • Irmãos Batista contratam Citi para vender fatia da mineradora LHG e atrair sócio estrangeiro (InvestNews)

  • Wealthfront inicia roadshow para o seu IPO proposto na Nasdaq (Investing)

  • A Bending Spoons concorda em comprar a Eventbrite por US$ 500 milhões para revitalizar a marca estagnada (TechCrunch)

GRÁFICO DO DIA

Ainda sobre o mercado de previsões, o volume semanal das apostas feitas nas plataformas cresce em níveis astronômicos.

MEMES SESSION

Última quinta-feira do mês pessoal, força.

AGENDA

Segunda, 01/12:

Terça, 02/12: Produção Industrial (BRA); Ofertas de Emprego (EUA)

Quarta, 03/12: PMI de Serviços (EUA); PMI Não-Manufatura (EUA)

Quinta, 04/12: PIB do Brasil; Balança Comercial (BRA); Pedidos Iniciais por Seguro-Desemprego (EUA)

Sexta, 05/12: Núcleo do Índice de Preços PCE (EUA)

THE PAPER // THAT'S ALL, FOLKS

BECAUSE MONEY MATTERS. Leitura diária obrigatória para gestores, traders, bankers e CEOs. Todas as manhãs de pregão, na sua caixa de entrada.