27/11/2025

Good morning, Brasil.

Feliz Thanksgiving (só para o americano). Lá fora, os mercados entram no clima de feriado: hoje as bolsas dos EUA não abrem e, na sexta, funcionam apenas meio período — combinação que deve comprimir a liquidez global.

No Brasil, a agenda continua cheia. Voltam ao centro do debate a tributação de dividendos, os investimentos do BNDES na Embraer, o avanço do ciclo de leilões de infraestrutura e, claro, o Ibovespa renovando máxima histórica, impulsionado pelo IPCA-15 mais comportado.

O Paper of the Day é o episódio envolvendo o Grupo Mateus, que revelou um “ajuste técnico” superior a R$ 1 bilhão — um anúncio que pegou muita gente de surpresa e reacende lembranças de outros momentos em que balanços chamaram a atenção por motivos bem diferentes do usual.

Aqui está o seu THE PAPER de hoje.

QUICK TAKES

📎 Read: O BTG além do banco: como a holding de André Esteves e sócios virou um dos maiores grupos empresariais do país (InvestNews)

▶️ Watch: O ex-garimpeiro virou bilionário - A história de Ilson Mateus (Passo a passo empreendedor)

#️⃣ Stat: As 49 startups de AI dos EUA que captaram US$ 100 milhões ou mais em 2025 (TechCrunch)

🧊 Ice Breaker: XP traz Detroit Lions ao Brasil e recria clima de Thanksgiving na Faria Lima (InfoMoney)

ANTES DO SINO

Fechamento 26/11/2025 — (19:00)

PAPER OF THE DAY

Balanços que não fecham e o risco invisível no portfólio

O caso do Grupo Mateus é aquele tipo de história que o investidor só descobre depois que o estrago já foi feito. Um ajuste técnico de R$ 1,1 bilhão em estoques virou um dos episódios mais graves de governança recente da bolsa, derrubou a ação em mais de 20% e reacendeu uma pergunta incômoda: até que ponto dá para confiar no balanço que você está olhando?

O ajuste reduziu o valor de estoques de R$ 6 bilhões para R$ 4,9 bilhões e obrigou a companhia a reapresentar as demonstrações financeiras de 2023 e 2024.

O impacto patrimonial foi relevante:

  • O patrimônio líquido caiu em quase R$ 700 milhões

  • A reserva de lucros despencou 84%, de R$ 824 milhões para cerca de R$ 130 milhões

Falhas de controle que já vinham sendo avisadas

O problema não surgiu do nada. Em 2021, a auditoria Grant Thornton identificou 42 deficiências moderadas nos controles internos do Grupo Mateus, incluindo problemas de controle de estoque — mas esses pontos desapareceram dos relatórios seguintes sem explicações robustas.

Entre as fragilidades reportadas por veículos locais e analistas:

  • lojas abertas há mais de dois anos sem inventário físico completo,

  • problemas em produtos perecíveis, perdas e furtos,

  • questões tributárias envolvendo ICMS

Em 2025, a Forvis Mazars assumiu a auditoria no lugar da Grant Thornton, em meio à revisão dos processos internos. A firma não faz parte do grupo das Big Four, o que também levantou questionamentos no mercado sobre o nível de escrutínio.

A reação do mercado

Desde o anúncio, as ações de GMAT3 chegaram a cair mais de 20%, com perda de algo entre R$ 2 e R$ 2,5 bilhões em valor de mercado.

Analistas criticaram duramente a comunicação: o ajuste apareceu nos números, mas sem uma explicação clara e didática de como o erro se formou, por quanto tempo se arrastou e qual a real extensão dos impactos sobre resultados anteriores.

Para o investidor, fica a sensação de estar tomando decisão com o “termômetro quebrado”.

A resposta oficial

O Grupo Mateus tem evitado usar a expressão “erro contábil” e classifica o evento como revisão técnica ligada ao aprimoramento de sistemas, políticas de custeio e integração de controles. Alega ainda que o impacto líquido representa cerca de 3,8% do ativo total e não afeta caixa nem covenants de dívida.

Como resposta à pressão do mercado, a empresa anunciou a contratação de uma nova auditoria paralela à Forvis Mazars, com início previsto para janeiro de 2026. A escolha recai sobre uma das líderes globais do setor, possivelmente KPMG, EY ou PwC.

A CVM já intensificou o escrutínio regulatório sobre o caso, avaliando se houve falhas materiais de governança, divulgação inadequada ou eventual infração à legislação do mercado de capitais.

Mas esse não é um ponto fora da curva: o histórico de balanços “diferentes”

O caso do Grupo Mateus não é “um raio em céu azul”. Ele se encaixa em um histórico de episódios – nacionais e globais – em que o mercado descobriu que os números não refletiam a realidade.

No Brasil, os exemplos mais recentes são conhecidos:

  • IRB Brasil (2020): inflou resultados, divulgou informação falsa sobre suposto investimento da Berkshire Hathaway e acabou firmando acordo com autoridades, além de acumular queda superior a 90% na ação desde o auge.

  • Via Varejo (2019): identificou indícios de fraude contábil com impacto potencial de até R$ 1,4 bilhão, ligada a provisões trabalhistas e contabilização de ativos e passivos.

  • CVC (2020): erros e indícios de fraude em repasses a fornecedores e earn-outs geraram ajustes de R$ 362 milhões e troca de CEO.

Lá fora, alguns “clássicos”:

  • Enron (EUA): usou veículos fora de balanço para esconder dívidas e inflar lucros; quebrou a Arthur Andersen e levou à criação da Lei Sarbanes-Oxley.

  • Wirecard (Alemanha): revelou que €1,9 bilhão em caixa simplesmente não existia; a EY foi punida e impedida de assumir novas auditorias de listadas na Alemanha por dois anos.

  • Luckin Coffee (China): fabricou mais de US$ 300 milhões em vendas e foi expulsa da Nasdaq, antes de reestruturar a governança e voltar a crescer.

Claro que alterações nos balanços podem ser feitas de maneira proposital ou não, mas em resumo, o caso do Grupo Mateus funciona como um alerta estrutural, onde as inconsistências contábeis ainda seguem acontecendo mesmo em empresas listadas — e vão continuar.

P.S: A história do Ilson Mateus fundador do grupo é um dos cases de empreendedorismo mais interessantes do país. Para quem gosta de entender melhor essas histórias, vale a pena assistir o vídeo destacado nos stats de hoje.

HEADLINES

World Big News:

  • A confiança do consumidor nos EUA atinge o nível mais baixo desde abril, à medida que crescem as preocupações com o emprego (CNBC)

  • Suíça avalia imposto sobre bilionários para ajudar no combate à crise climática (Euronews)

  • Dois soldados da Guarda Nacional americana foram mortos a tiros perto da Casa Branca (Politico)

Governo, Tesouro, BC e Brasília:

  • Prévia da inflação fica em 4,5% em 12 meses e volta ao teto da meta do BC (UOL)

  • Dias Toffoli suspende todos os processos sobre indenização por atraso ou cancelamento de voos (JOTA)

  • Haddad afasta privatização dos Correios e condiciona resgate a plano consistente de reestruturação (UOL)

  • Itaú estima saída de até US$ 35 bilhões do Brasil com tributação de dividendos (Folha)

Central de Resultados:

  • As ações da HP Inc. caem devido a demissões e projeções fracas em função das regulamentações comerciais dos EUA (CNBC)

Faria Lima, Leblon, Wall Street:

  • Ibovespa renova máxima histórica após IPCA-15 e dados de emprego dos EUA (InfoMoney)

  • Master: o detalhe que chama a atenção no habeas corpus de Vorcaro (O Globo)

  • Casas Bahia tem um plano para zerar sua dívida e pode aumentar o capital em até R$ 13 bi (Brazil Journal)

  • Nyse x Nasdaq: a simbólica migração do Walmart (Pipeline Valor)

Economia Real e Commodities:

  • Ipsos: Brasileiros estão mais otimistas com economia, mas juros são principal preocupação (Times Brasil)

  • Ciclo atual de leilões de infraestrutura deve garantir R$ 400 bilhões de obras até 2030 (Valor)

  • Embraer vai receber R$ 1 bi do BNDES para dinamizar exportações (Agência Brasil)

  • Dependência de importação de fertilizantes expõe fragilidade do Brasil (Globo Rural)

Tech, Silicon Valley, Startups, Criptos, VC:

  • Bitcoin e outros tokens digitais perderam mais de US$ 1 trilhão em valor nas últimas semanas (NYT)

  • Consolidação no mercado cripto: gigante tech adquire dona da Upbit por US$ 10,3 bi (Bloomberg Línea)

  • Nvidia “não é a Enron” (The Verge)

  • O que a reação à possível entrada do Google na venda de chips nos diz sobre o mercado de AI? (Sherwood)

Deals, M&A e Private Equity:

  • JBS e Grupo Viva se unem para criar empresa líder no segmento de couro (Globo Rural)

  • Patria compra gestora de US$ 3,5 bilhões em FIDCs e quer ser líder no segmento (Valor)

  • Omni capta R$ 500 mi com apoio do BID para financiar veículos (Pipeline Valor)

  • Ultrapar monta posição na Rumo e se aproxima de 5% (Brazil Journal)

GRÁFICO DO DIA

“Quando os amigos também pagam o preço”

 

MEMES SESSION

Fora o tiro que apareceu na janela ali perto, alguém sabe de algo?

AGENDA

Segunda, 24/11:

Terça, 25/11: Investimento Estrangeiro Direto (BRA); Vendas no Varejo (EUA); Confiança do Consumidor (EUA)

Quarta, 26/11: IPCA-15 (BRA); PIB 3°tri (EUA); PCE (EUA)

Quinta, 27/11: IGP-M (BRA); Feriado Dia de Ação de Graças (EUA)

Sexta, 28/11: Dívida Bruta/PIB (BRA); Taxa de Desemprego (BRA); Dia de Ação de Graças - Encerramento mais cedo às 13:00 (EUA)

THE PAPER // THAT'S ALL, FOLKS

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