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29/12/2025

Good morning, Brasil.
Última semana do ano, e enquanto quase tudo parou, o que não deu trégua foi o Caso Master, que agora já não é só uma crise financeira: virou também um choque entre instituições do próprio Estado.
Por isso, o penúltimo Paper of the Day de 2025 faz um mergulho na memória do país: os grandes escândalos financeiros que já colocaram Brasília à prova e por que parece que a história insiste em se repetir.
Aviso: não teremos edição nos dias 31/12 e 01/01. Voltamos no dia 02, prontos para acompanhar tudo o que 2026 vai nos trazer.
Aqui está o seu THE PAPER de hoje.
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📎 Read: Como nasceu o direito às férias no Brasil há 100 anos (e os empresários que diziam que isso 'quebraria' o país) (g1)
▶️ Watch: Bancos e economistas criticam acareação e veem BC coagido (CNN Brasil)
#️⃣ Stat: Mega-Sena - Qual foi o maior prêmio pago? Que sorteio teve mais ganhadores? (Estadão)
🧊 Ice Breaker: Por que 2025 foi o melhor ano da história para os bilionários (Forbes)
ANTES DO SINO

Fechamento 26/12/2025 — (19:00)
PAPER OF THE DAY
O Brasil está preso em um looping?
O Caso Master virou o principal enigma institucional do país no final de 2025.
Em teoria, o Banco Master já deveria estar sob controle das regras do Banco Central e seguindo um fluxo previsível de liquidação. Na prática, a história está cada vez mais confusa.
O Banco Central diz que há uma fraude bilionária clara. O STF, sob decisões do ministro Dias Toffoli, age como se parte da narrativa pudesse ser outra. A PGR tenta puxar o caso para um lado, enquanto a defesa tenta puxar para outro. E reportagens que citam Alexandre de Moraes adicionam tensão política a uma crise originalmente financeira.
Enquanto isso tudo acontece, quem tinha dinheiro aplicado nos CDBs do banco continua sem receber. O resgate pelo Fundo Garantidor de Créditos, que em tese seria concluído ainda em dezembro, não tem mais previsão, já que os contornos jurídicos parecem estar longe de acabar.
Com toda a confusão envolvendo o Banco Master, fica a sensação de que o país está vivendo mais um capítulo de uma história antiga: fraudes gigantescas que começam no mercado e terminam em Brasília, com disputas de poder e pouco encerramento claro.

Imagem: Plenarinho
E para perceber isso, basta olhar para alguns dos maiores escândalos financeiros do Brasil:
1. Banco Nacional (1995)
O que foi: Em 1995, o Banco Nacional sofreu intervenção após a descoberta de uma fraude contábil primária. Para esconder sua insolvência, a diretoria manteve no balanço 652 contas fictícias ou inativas, simulando empréstimos e receitas que nunca existiram. O banco fingia lucro enquanto acumulava prejuízos reais por uma década.
O Impacto: O rombo original, trazido a valores presentes, supera os R$ 35 bilhões.
O Desfecho: O caso foi o estopim para a criação do PROER (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional). O governo federal interveio para evitar um risco sistêmico, e a "conta" foi socializada com o contribuinte através do aumento da dívida pública, enquanto a parte saudável do banco foi absorvida pelo Unibanco.
2. Caso Banestado (1996-2002)
O que foi: O Banco do Estado do Paraná (Banestado) operou como a "lavanderia oficial" do país. Utilizando brechas nas contas CC5 (mecanismo legal para remessas de não-residentes), uma rede de doleiros enviou ilegalmente cerca de US$ 30 bilhões para o exterior, atendendo a políticos, empresários e crime organizado.
O Impacto: Em valores corrigidos pela inflação americana e convertidos ao câmbio atual, o montante evadido oscila entre R$ 150 bilhões e R$ 180 bilhões. O caso serviu de "escola" para operadores financeiros que atuariam décadas depois em outros escândalos.
O Desfecho: A complexidade das transações internacionais e a lentidão do Judiciário levaram à prescrição da maioria dos crimes. O dinheiro virou fumaça e a impunidade neste caso é frequentemente citada como o incentivo histórico para as fraudes subsequentes.
3. O Mensalão (2005)
O que foi: Com o estouro em 2005, o Mensalão não foi apenas um esquema de compra de votos no Congresso, mas a fusão entre a política e o sistema bancário para fins ilícitos. O esquema usava o Banco Rural para simular empréstimos fictícios ao Partido dos Trabalhadores (PT) e agências de publicidade para desviar recursos públicos (fundo Visanet) que pagavam a "mesada" de parlamentares em troca de apoio.
O Impacto: Embora o valor desviado (cerca de R$ 141 milhões na época) pareça modesto comparado aos escândalos atuais, o custo institucional foi imenso. Ele inaugurou a era em que bancos privados médios serviam como braço financeiro de projetos de poder, um modelo que se sofisticaria anos depois.
O Desfecho: Foi um marco histórico: pela primeira vez, o STF condenou à prisão membros da alta cúpula política (como José Dirceu) e proprietários de banco (Kátia Rabello). Parecia o fim da impunidade. Contudo, anos depois, penas foram perdoadas ou extintas, e o próprio Banco Rural foi liquidado, deixando claro que, no Brasil, o rigor da lei muitas vezes tem prazo de validade.
4. Banco PanAmericano (2010)
O que foi: Em 2010, o Banco Central descobriu que a instituição, pertencente ao Grupo Silvio Santos, mantinha em seus ativos carteiras de crédito que já haviam sido vendidas para outros bancos (cessão de crédito). Na prática, o banco vendia a dívida, recebia o dinheiro, mas continuava contabilizando aquele valor como se ainda fosse seu, inflando o patrimônio artificialmente.
O Impacto: O rombo foi de R$ 4,3 bilhões.
O Desfecho: Diferente do Banco Nacional, a solução foi de mercado. O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) aportou recursos tendo como garantia todo o império empresarial de Silvio Santos (incluindo o SBT). Posteriormente, o banco foi vendido ao BTG Pactual, que saneou a operação. O empresário quitou sua dívida com o FGC anos depois, livrando o Estado de prejuízo direto, mas expondo a falha de fiscalização nas auditorias externas.
5. Operação Lava Jato (2014)
O que foi: Revelada em 2014, a Lava Jato foi a “descoberta” de um cartel organizado. Grandes empreiteiras (como Odebrecht e OAS) pagavam propinas sistemáticas a diretores da Petrobras e agentes políticos para garantir contratos bilionários superfaturados. A corrupção deixou de ser um ato isolado para se tornar o modelo de negócios do Estado.
O Impacto: O prejuízo transcendeu os desvios diretos. Estudos (como o da GO Associados) estimam que a operação impactou a economia brasileira em mais de R$ 172 bilhões, resultando na paralisia de obras de infraestrutura, destruição da cadeia de óleo e gás e perda de milhões de empregos.
O Desfecho: Apesar da recuperação de bilhões aos cofres da estatal, o encerramento jurídico foi controverso. O STF anulou diversas condenações, não por comprovação de inocência material, mas por falhas processuais e incompetência de foro, gerando uma crise de credibilidade no sistema de justiça e a sensação social de impunidade.
6. Fraude do INSS (2023-2025)
O que foi: Entre 2023 e 2025, o Brasil testemunhou uma fraude massiva operada por "associações de aposentados" de fachada. Aproveitando-se da falta de segurança cibernética (ausência de biometria) nos Acordos de Cooperação Técnica com o INSS, essas entidades inseriram milhões de idosos como "sócios" à revelia, descontando mensalidades diretamente na folha de pagamento.
O Impacto: O rombo acumulado, segundo a CGU e a Polícia Federal, atinge R$ 6,3 bilhões. Diferente de fraudes corporativas, este golpe atacou a liquidez imediata da população mais vulnerável, funcionando como um "imposto privado" ilegal.
O Desfecho: A Polícia Federal deflagrou operações para estancar a sangria, mas o ressarcimento é lento e burocrático. O caso expôs a fragilidade tecnológica do Dataprev e a conivência interna na autarquia previdenciária.
Neste contexto, o que mais preocupa além dos rombos financeiros, é a instabilidade institucional que se forma quando as principais engrenagens do país entram em conflito. O Banco Central, o STF e o FGC deveriam estar alinhados na proteção do sistema e do cidadão; quando não estão, a confiança do mercado é a primeira a ser comprometida.
O Brasil já demonstrou capacidade de identificar fraudes bilionárias e expor seus mecanismos. No entanto, o padrão histórico mostra que, no momento de responsabilizar, recuperar recursos e encerrar os processos de maneira clara, o país frequentemente falha. O resultado é um ciclo que se repete: escândalos gigantescos, disputas políticas, desfechos indefinidos e um custo elevado para a sociedade.
O Caso Master ainda está em andamento e não há previsão para que se resolva. Mas ele já serve como um novo teste de maturidade institucional: será que finalmente teremos um encerramento coerente com a gravidade do episódio? Ou veremos, mais uma vez, um grande esforço investigativo seguido de consequências pouco proporcionais?
HEADLINES
World Big News:
EUA lançam ataques contra o Estado Islâmico na Nigéria (BBC)
Zelensky se reúne com Trump na Flórida para conversas sobre o plano de paz para a Ucrânia (Reuters)
Japão aprova orçamento recorde de defesa para dissuadir a China (g1)
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Governo, Tesouro, BC e Brasília:
Mais da metade dos ministros de Lula deve deixar governo até abril de 2026 (Valor)
Condenado pelo STF, ex- diretor da PRF Silvinei é preso no Paraguai (Metrópoles)
Deputados gastam ao menos R$ 279 mi da Câmara com aluguel de carros, barcos e aeronaves em 7 anos (Folha)
Congresso corta R$ 11,3 bilhões de despesas obrigatórias para turbinar emendas e fundo eleitoral (Estadão)
Faria Lima, Wall Street, Euro, Ásia:
Após apagar herança da Odebrecht, BRK Ambiental volta às concessões e tenta encerrar o jejum de IPOs (InvestNews)
Gestora monta área de real estate para aproveitar janela de ativos descontados (Neofeed)
Rial vai para o board da Trafigura, uma das maiores tradings do mundo (Brazil Journal)
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Economia Real e Commodities:
Agronegócio sai de recordes em 2025 para estagnação em 2026, com queda de produtividade (Estadão)
Concessão de crédito cai 6% e endividamento já consome quase metade da renda anual das famílias, aponta BC (O Globo)
Varejo sacrifica margens e antecipa promoção para salvar o ano (InvestNews)
Pilotos de avião e comissários aprovam reajuste salarial e descartam greve (UOL)
Tech, Silicon Valley, Startups, Criptos, VC:
Ações da Oracle caminham para o pior trimestre desde 2001, enquanto os novos CEOs enfrentam preocupações sobre a implementação da AI (CNBC)
A Teceo, que faz a gestão de vendas B2B para moda e lifestyle, fechou contratos com grandes marcas do varejo, como Reserva, Veste e Santa Lolla, e recebeu seu primeiro investimento depois de quatro anos de operação (Neofeed)
Google está lançando um novo recurso que permite aos usuários alterar seus endereços do Gmail (CNBC)
Deals, M&A e Private Equity:
Sanofi compra fabricante de vacinas Dynavax por US$ 2,2 bilhões (InvestNews)
Dono da VinFast, o mais rico do Vietnã, Investe US$ 1 bi em fábrica de carros elétricos (Forbes)
Sementes São Francisco, do Pátria, compra Auma Sementes e entra em MG (IstoÉ Dinheiro)
ComBio, que fornece energia térmica renovável para grandes indústrias, tem dois novos sócios: os bancos europeus de desenvolvimento DEG, da Alemanha, e Proparco, da França (Brazil Journal)
MEMES SESSION
Simplesmente a foto do fundador da Kalshi na capa do computador do escritório.

AGENDA
Segunda 29/12: IGP-M (BRA); Índice de evolução do emprego CAGED (BRA)
Terça 30/12: Dívida Bruta/PIB (BRA); Taxa de desemprego (BRA); Atas da reunião do FOMC (EUA)
Quarta 31/12: Ano Novo
Quinta 01/01: Feriado
Sexta 02/01: PMI Industrial (EUA)
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